Postagens

Sussurros

Imagem
    Noite fria, sensação estranha.           - Não consigo dormir. Uma excitação toma conta de mim. Há várias noites, Ana tinha o sono perturbado, inquieto. Às vezes sonhava e lembrava, muitas vezes seus sonhos eram pedaços desconectados. Acordava várias vezes com a sensação de seu corpo estar sendo possuído. Bebeu água e voltou para cama, pela terceira vez em uma noite e, mais uma vez, conseguiu dormir. Dessa vez encontrou-se a correr nua, primeiro estava nas ruínas de uma casa abandonada, depois era um lamaçal. Alguém a perseguia, não dava para identificar a pessoa, se era homem ou mulher, enfim, chegou na floresta, muitos galhos, estava toda suja de lama, escureceu e no próprio sonho adormeceu. Acordou, alguém estava ali, em cima do seu corpo, tocando-a, excitando-a. Ela podia ouvir a respiração afoita, pensou em tocar o outro corpo e assim o fez. Nada sentiu, era como se ninguém estivesse ali pesando, mas estava, era mais que se...

Brincando de roda

Imagem
  Algumas experiências da minha infância marcaram. Na maioria, contatos com a espiritualidade. Nem todos eram durante minhas noites de sono, em alguns eu me encontrava acordada. Uma noite, em especial, eu brinquei de roda e agora posso contar essa breve experiência, pois, acordei. Dessa forma, vou contar do fim: Do auto dos meus oito anos, sozinha em meu quarto, acordo cercada por crianças como eu. Estávamos todas de mãos dadas em um divertimento total com risos e batidas de pés. Por volta de seis crianças eufóricas em meu quarto, no meio da noite. Brincávamos de roda. - Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar…  Então, ao despertar e me ver ali em meu quarto rodeada por cinco crianças achei estranho, afinal, eu dormia e brincava, eu as tocava, sentia suas mãos. Como aquilo acontecia? Elas me olhavam e se olhavam entre si, até que desapareceram, assim, do nada, com o piscar dos meus olhos. Voltei para cama com uma sensação incrí...

Alguém no meu quarto

Imagem
       Meu sono nunca foi tranquilo, acho que a atmosfera de suícidio começou a pairar na minha vida desde os quatro anos de idade e ficou até minha adolescência. Sempre me revirando e retirando todos os lençóis da cama.                Uma noite, já com 10 anos de idade, acordei por volta das 2h da madrugada.                Minha mãe dormia comigo no quarto porque eu tinha muito medo das visitas noturnas.                Comecei a ouvir passos e conversas vindos do corredor da casa.                 - Elas estão aqui.                Fiquei observando, paralisada de medo até que apareceu na porta do meu quarto um homem baixo com um balde na mão e um outro de estatura alta.                Eles olhav...

Uma cidade fantasma

Imagem
  Virgínia e eu caminhamos pela floresta até chegar na taberna de D. Gertrudes. Ar fresco da manhã, brisa matinal gelada. Do meu casebre até a cidade não avistamos ninguém. Caminhamos muito, muito mais do que das outras vezes, até parecia que a cidade tinha mudado de lugar. Mas, seguimos em frente, conversando alegremente. Ao longe pude avistar a cidade. - Estranho, cadê todo mundo? Por que as casas estão destruídas? O que houve, Virgínia? Tudo estava diferente, uma cidade abandonada. - D. Gertrudes dirá o que aconteceu. Chegamos ao que parecia a taberna. Não era a mesma de dois dias atrás. - Vamos Virgínia, D. Gertrudes pode estar precisando de mim. Entro correndo e nada, tudo revirado, cheio de poeira, teias de aranha. - D. Gertrudes! D. Gertrudes! Ninguém. Sentamos, esperei um tempo e quando já havia desistido, D. Gertrudes aparece. - D. Gertrudes, o que houve? Há dois dias estava aqui trabalhando. - Minha filha, você não percebeu nada? Essa cidade está desabitada faz 50 anos. S...

Ave Maria: os espíritos me procuram

Imagem
                  Não sei o que está acontecendo comigo.                Eu estava bem longe de todos. Agora muitos me procuram. Porque?                Agora acho que posso ir à cidade próxima, afinal, preciso trabalhar, me manter, comprar alimentos.                Chamarei Virgínia para ir comigo.                 Virgínia apareceu aqui do nada, bateu na porta e fizemos amizade. Eu gosto muito dela, conversamos muito, sobre tudo. Bom, quase tudo. Afinal, tenho receio de contar para ela que percebo quando as pessoas estão perto de morrer.                Ela diz que mora aqui perto e minha vida está tranquila, então não quero ficar sozinha de novo e estragar nossa amizade.           ...

Ave Maria

Imagem
       Meu nome é Ave, Ave Maria. Ando só, vivo só, mas, já foi diferente. Agora as pessoas têm medo de mim. Eu não tenho culpa. Vou contar-lhes minha história. Desde que me entendo por gente, vejo pessoas, todas as pessoas, pessoas também que só eu vejo. Elas me procuram, passam por mim. Umas me assombram, outras me olham sem parar. Eu não sei por que elas me procuram.  No começo, eu conversava com todos e com o tempo, as pessoas me perguntavam: - Você está falando com quem? Só aí eu fui percebendo que eu via tudo, tudo mesmo. Isso acontecia desde minha mais tenra idade. Fui crescendo e passei a saber quando coisas ruins iriam acontecer. Era tudo tão natural, ainda é. De um tempo para cá, passei a enxergar quando uma pessoa está perto de morrer. Muito simples, ela se aproxima e eu sinto, sinto e vejo. A pele parece diferente, sem cor, como morta. Vejo isso com qualquer um que se aproxime e esteja perto de deixar o seu corpo. Amigos, parentes e até nas pessoas...

A casa amarela continua...

Imagem
                 E Augusto seguia incansável conversando com seus amigos. Willy cada dia mais magro. Afinal, a interação dele com os livros não existia. Mas, Augusto seguia e durante anos leu sem parar. Leu até o último livro daquela casa. Procurou Willy e o encontrou deitado, imóvel, só pele e osso. Olhou em seus braços e viu pêlos, encostou suas mãos por seu rosto e sentiu arranhar. Foi então que tentou sair e nenhuma porta ou janela encontrou. -Por fora, a casa tinha portas e janelas. Dizia Augusto. E saiu procurando uma saída. Antes prazer e compulsão, agora o terror tomava conta do seu corpo. Vozes ecoavam de todos os cantos da casa. Era como se os personagens dos livros ganhassem vida. Foi isso que Augusto pensou. Mas, aquela casa era antiga, muito mais do que ele imaginava. Por ela, vários leitores, como ele, haviam passado e se aprisionado. Augusto começou a sentir seu corpo fraco, esquelético, se viu ao chão. E muitos se aproxim...