Ave Maria

 


    Meu nome é Ave, Ave Maria.

Ando só, vivo só, mas, já foi diferente. Agora as pessoas têm medo de mim. Eu não tenho culpa.

Vou contar-lhes minha história.

Desde que me entendo por gente, vejo pessoas, todas as pessoas, pessoas também que só eu vejo. Elas me procuram, passam por mim. Umas me assombram, outras me olham sem parar. Eu não sei por que elas me procuram. 

No começo, eu conversava com todos e com o tempo, as pessoas me perguntavam: - Você está falando com quem?

Só aí eu fui percebendo que eu via tudo, tudo mesmo.

Isso acontecia desde minha mais tenra idade.

Fui crescendo e passei a saber quando coisas ruins iriam acontecer.

Era tudo tão natural, ainda é.

De um tempo para cá, passei a enxergar quando uma pessoa está perto de morrer.

Muito simples, ela se aproxima e eu sinto, sinto e vejo. A pele parece diferente, sem cor, como morta.

Vejo isso com qualquer um que se aproxime e esteja perto de deixar o seu corpo. Amigos, parentes e até nas pessoas que passam.

É por isso que se afastaram de mim.

Uma amiga, do colégio, voltou para visitar a cidade e marcamos um encontro. Casada e com filhos, feliz, mas, eu vi, sua pele morta. Não tardou, ela se foi.

Uma vizinha, que todos os dias frequentava a casa que eu morava com minha família, ao chegar, certo dia, eu olhei para ela diferente, mas, não tive coragem de falar que vi sua pele sem cor. Falei só para minha amiga, a qual morava na mesma rua que eu, sobre esses acontecimentos.

E, a mulher apareceu morta dias depois. Depois foi um tio meu.

Minha amiga saiu contando para todos e as pessoas passaram a ter medo de mim. Não me olhavam, tinham medo que eu olhasse para elas. Minha família foi excluída e eu, ah, eu achei melhor me isolar nessa floresta depois que quase fui linchada.

Eu me senti uma bruxa na inquisição.

Aqui, sinto-me segura, ninguém me vê e eu não vejo ninguém.

Mas, até quando vou aguentar...


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