A casa amarela


           Certa vez, um menino caminhava por uma rua deserta. Nunca ele havia passado por ali. A rua era sombria e seus colegas da escola sempre evitavam passar por lá. O medo era proveniente da casa amarela. Mas, Augusto era corajoso e curioso. Ele queria saber o porquê de tanto medo. Então passou por lá. Dessa vez, ele passou às pressas, dizia para si mesmo que sua mãe iria ficar preocupada se ele se atrasasse para chegar em casa. 
            Sua mãe era franzina, carinhosa, bondosa e tinha excesso de cuidado com Augusto, mesmo ele sendo o segundo de quatro filhos e já estando no alto dos seus doze anos. Eles moravam numa casa simples, pequena, aconchegante e rodeada de plantas. Sua mãezinha adorava o perfume e a delicadeza das flores. 
            Augusto não tinha muitos amigos e passava as horas a se divertir com a natureza e com Willy, seu cachorrinho de estimação. 
            Na sua vida calma e tranquila, o menino frequentava a escola pela manhã e o restante do dia era livre para fazer o que quisesse; desde que estivesse sempre em casa, ao lado da família e aos olhos da mãe. 
            E foi assim, criando força para investigar a casa mais de perto. Dia após dia ficava mais tempo parado em frente, a olhar para a casa.
            De lá não se via nem ouvia nada, nenhum barulho. Parecia mesmo abandonada.
            Cada vez mais audacioso Augusto decidiu: - vou para casa, almoço e venho com Willy olhar pela janela.
            - Mamãe, vou passear um pouco com Willy, mas, não se preocupe, vou aqui perto.
            - Augusto, volte logo!
            E ele foi com seu cachorro bisbilhotar pela janela da casa amarela.
            Só poeira no vidro e pouco dava para ver o que havia lá dentro. Bom, parecia uma casa normal por fora e por dentro era um mistério que ele queria desvendar.
            - Toc, toc, toc. Bateu na porta em busca de saber se alguém havia ali. Ninguém respondeu. Girou a tranca e a porta então se abriu.
            Willy e Augusto parados ficaram a olhar aquela sala tão empoeirada e das escadas desciam teias de aranha.
            – Olá, tem alguém aí? 
            Nada, nenhum barulho. Augusto entrou e ao chegar no meio da sala, viu sobre a mesa, um papel amarelado pelo tempo e uma pena com tinteiro ao lado. 
            Não leu aquele papel e olhou a sua volta maravilhando-se com o tesouro que havia encontrado. Estantes abarrotadas de livros coloridos e empoeirados rodeavam todas as paredes da casa. 
            Baixou os olhos e leu: 
            - Caro amigo, este aqui foi meu tesouro um dia. Cada livro desse foi meu companheiro na fantástica aventura da vida, não solitária porque eles sempre me fizeram companhia. 
            Quando estava ao lado deles podia viajar sem sair do lugar. Mas, precisei partir e passo para você, caro amigo, a importante tarefa de fazê-los viajar e encantar outros aventureiros curiosos como eu e você.
     Carlos Dickens
            Augusto não cabia em si de tanta voracidade com que folheava aqueles tesouros. E a hora foi passando e o tarde escurecendo. 
            Seus olhos brilhavam, vivia a sonhar acordado, conversando com seus amigos. 
            Nem lembrou de voltar para sua casa. 
            Daquele dia em diante, nunca mais ninguém o viu.

Comentários

  1. Augusto foi literalmente absorvido pela magia dos livros.

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    1. Que lindo comentário. Adorei. Obrigada pela interação.

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